Uma dançarina desaparecida, um cientista aposentado e um mistério que durou 68 anos: quem foi a Miss Bomba Atômica?

Tarifas de 50% sobre aço e alumínio entram em vigor nos EUA; entenda os impactos para o Brasil
Foto de dançarina de Las Vegas ficou famosa, mas nome da estrela ficou desconhecido por anos. Até que um historiador resolveu investigar quem era modelo das imagens usadas para fortalecer o turismo atômico na região. Esta imagem fornecida pela Autoridade de Convenções e Visitantes de Las Vegas mostra Anna Lee Mahoney posando para uma foto em Las Vegas, Nevada, em maio de 1957. Mahoney, uma dançarina do agora fechado Sands Hotel, foi conhecida por décadas por seu nome artístico, Lee Merlin, ou como “Miss Bomba Atômica”.
Don English/Coleção Las Vegas News Bureau, Arquivo LVCVA/AP
Não seria fácil localizar a mulher que ficou conhecida como "Miss Bomba Atômica". Tudo o que Robert Friedrichs tinha era um nome artístico que encontrou impresso sob uma foto de arquivo de jornal. Ela posava com outras dançarinas de Las Vegas.
Ele levaria mais de duas décadas para desvendar o mistério da verdadeira identidade de Lee A. Merlin.
Friedrichs, 81, não é detetive. Ele é historiador e cientista aposentado e começou sua carreira durante a era atômica, um momento complicado da história americana. Naquela época, a linha entre o medo e o fascínio pela energia nuclear era frágil.
Entre 1951 e 1992, centenas de testes nucleares foram realizados, principalmente no subsolo, no deserto nos arredores de Las Vegas. Mas foram as enormes nuvens em forma de cogumelo das explosões acima do solo que capturaram a imaginação do público dos anos 1950 e início dos 1960.
Las Vegas procurou capitalizar essa mania e, em 1957, enviou um fotógrafo em missão para fotografar um anúncio promocional para o turismo nuclear. Ele teve a ideia de fotografar a dançarina principal do Sands Hotel em um maiô com o formato de uma nuvem em forma de cogumelo.
Na foto, a dançarina de salto alto sorri com os braços estendidos enquanto o deserto se desenrola atrás dela como um palco.
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A imagem desempenhou um papel fundamental na formação da identidade de Las Vegas como uma cidade de fantasia e espetáculo. No entanto, pouco se sabia sobre a estrela da foto — até agora.
Em busca de pistas
Friedrichs começou a procurar a Miss Bomba Atômica por volta do ano 2000. O Museu Atômico estava prestes a ser inaugurado em Las Vegas. Como membro fundador, ele “esperava contra toda esperança” que ela ainda estivesse viva e pudesse comparecer à inauguração.
O que começou como uma simples pergunta — quem era ela? — tornou-se uma obsessão para Friedrichs. O mistério durou mais tempo do que carreiras e sobreviveu mais que alguns de seus amigos.
Robert Friedrichs no Museu Atômico.
John Locher/AP
Friedrichs encheu pilhas de pastas com pistas e possíveis indícios, como um que o levou “a um cara em Dakota do Sul”. Passava os dias de folga vasculhando arquivos de jornais online ou examinando coleções especiais na biblioteca.
Ele localizou o fotógrafo daquela famosa sessão de fotos e entrevistou ex-dançarinas que confirmaram o nome artístico da Miss Bomba Atômica. Mas o nome verdadeiro da mulher ainda não era conhecido.
As pistas se esgotaram e os meses se transformaram em anos.
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O mistério não tirava seu sono, mas ele disse que, quando estava acordado, consumia seus pensamentos. Às vezes, ele ficava olhando para a foto, imaginando se ela algum dia revelaria a resposta.
Então, no inverno passado, algo inesperado aconteceu. Ele deu uma palestra no Museu Atômico sobre sua busca e, no dia seguinte, um membro da plateia lhe enviou uma cópia de um obituário. Um detalhe se destacou: a mulher já havia sido a dançarina principal do Sands Hotel.
Seu nome era Anna Lee Mahoney.
Robert Friedrichs ao lado de um recorte de papelão da foto da Miss Bomba Atômica.
John Locher/AP
Além do nome artístico
Ela nasceu em 14 de agosto de 1927, no Bronx. Mahoney treinou balé em Nova York antes de se apresentar em shows e musicais sob seu nome artístico, Lee A. Merlin.
Em 1957, ela era a dançarina principal do showroom Copa do Sands Hotel, um local frequentado pelo Rat Pack e mafiosos. Ela se apresentava para um público de elite, incluindo Frank Sinatra e Louis Armstrong, de acordo com seu obituário.
Depois de pendurar as sapatilhas de dança, Mahoney trabalhou por 30 anos como conselheira de saúde mental, mudou-se para o Havaí e se casou. Ela morreu em 2001 em Santa Cruz, Califórnia, após uma batalha contra o câncer.
Sua fotografia é uma das mais solicitadas entre os 7,5 milhões de imagens mantidas no arquivo do Centro de Convenções e Autoridade de Visitantes de Las Vegas. Ela inspirou fantasias de Halloween, e a ex-coelhinha da Playboy Holly Madison a recriou em 2012.
Uma das fotos descartadas da famosa sessão aparece no fundo de um episódio de "Crime Story", uma série policial ambientada na década de 1960.
“É realmente incrível que um clique do obturador possa ter causado tanto impacto”, disse Friedrichs.
Uma exposição temporária mostrando a busca de décadas será inaugurada em 13 de junho no Museu Atômico de Las Vegas.
“É sobre a Miss Bomba Atômica, sobre Anna Lee Mahoney”, disse Joseph Kent, vice-diretor e curador do museu, “mas também é sobre a busca de Robert para descobrir sua verdadeira identidade”.
Uma obra de arte que faz referência à foto da Miss Bomba Atômica, à esquerda, está em exibição no Museu Atômico, em Las Vegas.
John Locher/AP
Novos amigos e velhas histórias
Ao longo dos anos, o projeto tornou-se profundamente pessoal para Friedrichs.
Ele e o fotógrafo Don English tornaram-se amigos íntimos após o primeiro encontro. Antes da inauguração do Museu Atômico ao público, Friedrichs levou English para conhecer o local. English levou a câmera original que usou para tirar a famosa foto.
English posou no saguão para uma foto com um recorte de papelão em tamanho real da “Miss Bomba Atômica”. Friedrichs brinca que essa é sua foto favorita entre todas as que colecionou dela em 25 anos.
English morreu em 2006, muito antes de Friedrichs resolver o mistério. Em vez disso, ele ligou para a filha de English para compartilhar a notícia.
“Ela ficou muito animada por termos resolvido isso”, disse Friedrichs.
E havia as dançarinas que passaram horas conversando com Friedrichs. Elas compartilharam seus nomes artísticos e histórias sobre a Las Vegas vintage — jantares chiques, sessões de fotos e presentes luxuosos, como um lindo anel de citrino que uma delas ganhou de um homem que queria se casar com ela.
As mulheres deram um vislumbre da era atômica, da vida como dançarinas do Copa e de como se tornaram ícones de Las Vegas, mas às vezes eram identificadas incorretamente nas legendas das fotos ou seus nomes eram completamente omitidos.
E, finalmente, com a ajuda de investigadores particulares que doaram seu tempo, Friedrichs descobriu evidências conclusivas ligando todos os nomes da Miss Bomba Atômica a um único número de Seguro Social.
“É algo que sempre esperei que fosse concluído durante a minha vida”, disse Friedrichs, com os olhos marejados.
Sua motivação para resolver o mistério não veio apenas da curiosidade. O nome que faltava era uma lacuna no registro histórico, disse ele. O objetivo era corrigi-la.
"É como saber que alguém foi o primeiro presidente dos Estados Unidos, mas qual era o nome dele mesmo?"

LISTA: venda de motos novas sobe quase 11% em 2025; veja as mais vendidas

Tarifas de 50% sobre aço e alumínio entram em vigor nos EUA; entenda os impactos para o Brasil
Segundo a Fenabrave, foram emplacadas mais de 800 mil motos zero km em 2025. A Honda CG 160 continua sendo a moto mais vendida do mercado, como acontece nos últimos 49 anos. Honda CG Titan 2025
divulgação/Honda
Após ultrapassar as 650 mil motos vendidas em abril, o mercado alcançou um novo patamar ao emplacar 849.946 motocicletas no Brasil, segundo os dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
Comparando com o mesmo período de 2024, a alta é de 10,8% nas vendas, quando o Brasil registrou 767.079 emplacamentos.
De acordo com a entidade, maio superou abril e já é o melhor número de vendas com mais de 190 mil unidades emplacadas. (veja mais abaixo)
Veja as 10 motos mais vendidas até maio de 2025.
Honda CG 160: 185.711 unidades;
Honda Biz: 108.160 unidades;
Honda Pop 110i: 93.754 unidades;
Honda NXR 160 Bros: 74.909 unidades;
Mottu Sport 110I: 34.440 unidades;
Honda CB300F: 26.840 unidades;
Yamaha YBR 150: 24.000 unidades;
Honda PCX 160: 22.330 unidades;
Honda XRE 300: 17.707 unidades;
Yamaha Fazer 250: 16.959 unidades.
No acumulado do ano, a Yamaha XTZ Lander 250 deixou de figurar entre as 10 mais vendidas e deu espaço para a Yamaha Fazer 250 (ou FZ25), que passou a ocupar a 10ª colocação.
"Com o aumento da Taxa Selic, os financiamentos ficaram mais difíceis para a maior parte dos compradores de motocicletas de 100 a 250 cilindradas, que formam mais de 80% do mercado de duas rodas. Com isso, o consórcio tem sido a melhor alternativa, principalmente para as regiões Norte e Nordeste do país", disse Arcelio Junior, presidente da Fenabrave.
⚡ Apesar de um mercado feroz de novas motos a combustão, as vendas de modelos elétricos continuam sem força no Brasil. Nos primeiros cinco meses de 2025, foram emplacadas 4.803 unidades eletrificadas, que representam menos de 0,5% do mercado total.
Mesmo assim, o mercado deste tipo de moto cresceu 73% em um ano, quando passou de 2.775 unidades emplacadas em 2024 para 4.803 modelos vendidos até maio de 2025.
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As motos mais vendidas de maio
Em maio, foram 193.350 emplacamentos de motocicletas, 5,84% acima de abril, que teve 182.674 unidades comercializadas.
A Honda CG 160 continua sendo a moto mais vendida do mercado e essa liderança segue inalterada desde 1976. Em maio, foram 42.478 novos emplacamentos do modelo.
Em segundo lugar ficou outro modelo da mesma fabricante, a Honda Biz. A cub vendeu 23.177 unidades em maio.
Veja as 10 motos mais vendidas em maio.
Honda CG 160: 42.478 unidades;
Honda Biz 125: 23.177 unidades;
Honda Pop 110i ES: 20.850 unidades;
Honda NXR 160 Bros: 17.993 unidades;
Mottu Sport 110I: 10.893 unidades;
Yamaha YBR 150: 6.063 unidades;
Honda CB 300F Twister: 5.612 unidades;
Honda PCX 160: 4.792 unidades;
Shineray XY 125: 4.101 unidades;
Honda XRE 300: 4.067 unidades.
Veja as 10 marcas com maior participação de mercado no acumulado de 2025:

Honda: 67,70%
Yamaha: 14,27%;
Shineray: 5,75%;
Mottu: 4,05%;
Avelloz: 1,39%;
Royal Enfield: 1,34%;
Bajaj: 1,15%;
Haojue: 1,02%;
BMW: 0,63%;
Triumph: 0,61%.

Cidade alemã tira 20 mil pessoas de casa após encontrar bombas dos EUA lançadas na 2ª Guerra

Tarifas de 50% sobre aço e alumínio entram em vigor nos EUA; entenda os impactos para o Brasil
Operação, lançada nesta quarta-feira (4), será a maior desde o fim do conflito, em 1945. Escolas, hotéis, restaurantes, empresas e um hospital terão de ser esvaziados. Colônia, Alemanha
Unsplash/Eric Weber
Mais de 20 mil pessoas precisarão sair de casa em Colônia, na Alemanha, nesta quarta-feira (4), por causa da retirada de bombas da Segunda Guerra Mundial não detonadas que foram encontradas na cidade. Os explosivos são dos Estados Unidos e foram lançados pelos Aliados há 80 anos.
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A ação representa a maior operação para retirada de pessoas na cidade desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. As bombas foram encontradas durante uma obra realizada próximo a um estaleiro.
Segundo o governo, uma das bombas pesa uma tonelada, enquanto as outras duas têm cerca de 500 kg cada. Agentes de segurança foram enviados à cidade para desativar os explosivos.
Para que a operação ocorra com segurança, as autoridades estabeleceram um perímetro de risco com raio de 1.000 metros, que será interditado. Todas as pessoas que moram ou trabalham na área deverão deixar o local.
A região abriga vários museus e empresas, incluindo 58 hotéis e diversos restaurantes. Além disso, um hospital e dois lares para idosos foram esvaziados. Nove escolas e várias creches tiveram as aulas canceladas. Serviços de transporte público também foram afetados.
Segundo a prefeitura de Colônia, a expectativa é que os trabalhos para a retirada das bombas sejam concluídos ainda nesta quarta-feira. Durante o período de isolamento da área, moradores poderão recorrer a dois pontos de acolhimento.
Operações do tipo não são raras em Colônia. A cidade foi alvo de vários bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial. Em outubro do ano passado, por exemplo, três hospitais precisaram ser esvaziados após uma bomba da Segunda Guerra ter sido encontrada em uma obra.
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O ‘calcanhar de Aquiles’ da relação entre Lula e Macron

Tarifas de 50% sobre aço e alumínio entram em vigor nos EUA; entenda os impactos para o Brasil
Negociação do acordo União Europeia-Mercosul desafia sintonia entre os presidentes do Brasil e da França. Presidente brasileiro faz visita oficial à França nesta quinta (5) e sexta-feira. Lula e Macron no Pará
Ricardo Stuckert
A relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente francês Emmanuel Macron tem sido marcada por demonstrações de amizade em frente às câmeras, trocas de elogios e alinhamentos em temas como meio ambiente e governança internacional.
Durante a passagem do líder da França pelo Brasil em março de 2024, o clima afetuoso e as imagens descontraídas da dupla de presidentes na Amazônia renderam memes nas redes sociais e manchetes na imprensa mundial que destacaram o bromance —termo que contrai as palavras romance e brothers (irmãos, ou amigos, em inglês)— da relação.
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E antes mesmo da chegada de Lula a Paris para sua visita de Estado nesta semana, Macron compartilhou em suas redes sociais uma mensagem direcionada ao chefe de Estado brasileiro que pareceu confirmar a continuidade da "lua de mel" diplomática.
"Vamos escrever a próxima página juntos?", escreveu Macron na publicação, ao lado de uma foto que mostra as mãos dos presidentes e as bandeiras do Brasil e da França ao fundo.
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No entanto, mesmo os relacionamentos mais promissores enfrentam seus pontos frágeis. No caso de Lula e Macron, o calcanhar de Aquiles atende pelo nome de acordo União Europeia-Mercosul, dizem especialistas.
"A França hoje é considerada o maior obstáculo para que se avance com o processo de ratificação do acordo", diz Carolina Pavese, doutora em Relações Internacionais pela London School of Economics (LSE) e especialista em Europa.
O avanço das negociações para colocar o tratado em vigor é tema é prioritário da política externa de Lula, mas encontra uma clara objeção por parte do governo de Emmanuel Macron — que comanda hoje a segunda maior economia da UE.
O acordo foi assinado no final do ano passado, mas ainda precisa ser ratificado pelo Parlamento Europeu e os legislativos de cada país de ambos os blocos.
Quando a finalização das negociações foi anunciada durante encontro do Mercosul em Montevidéu em dezembro de 2024, o governo da França se manifestou e classificou a versão aprovada do pacto como "inaceitável".
O Palácio do Eliseu, residência oficial de Macron, disse ainda que o presidente estava em contato com a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, sobre o tema.
A oposição francesa se deve principalmente à forte objeção de produtores agrícolas. O setor alega que a entrada em vigor do tratado colocaria em risco milhares de empregos ao abrir as portas do mercado francês a produtos agrícolas produzidos sem os mesmos padrões de qualidade ambiental e sanitários exigidos dos fazendeiros franceses.
O presidente francês também já criticou o acordo por, segundo ele, não conter garantias suficientes contra o desmatamento, especialmente na Amazônia.
"[A discordância entre Brasil e França sobre o acordo] sempre gera um incômodo nesses encontros", nota Pavese, que é professora do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT).
'Cenário predominantemente favorável'
O tema será abordado por Lula durante suas reuniões com Macron e sua equipe nos próximos dias, segundo o Ministério de Relações Exteriores (MRE).
"O tema do acordo Mercosul União Europeia tem sido suscitado pelo presidente Lula em todos os seus contatos com interlocutores europeus e com certeza será tratado também nos seus encontros com o presidente Emmanuel Macron", confirmou o diretor do Departamento de Europa do Itamaraty, Flavio Goldman, durante o briefing sobre a viagem à França na última sexta-feira (30/5).
O diplomata disse ainda que o governo brasileiro tem notado um "cenário predominantemente favorável ao acordo" no Conselho Europeu, diante de elevação de tarifas comerciais pelos Estados Unidos.
Segundo Goldman, já há em países que vinham marcadamente se manifestando contrários ao acordo, como a Áustria, movimentações em favor do acordo no sistema político.
A expectativa entre o Itamaraty é que o pacto seja assinado até dezembro.
Também segundo o MRE, Lula deve levar a Macron suas críticas sobre a nova lei antidesmatamento europeia, que deve entrar em vigor no final deste ano.
A legislação determina que um grupo um grupo de sete commodities, entre elas carne bovina e soja, tenham sua entrada no bloco vedada se vierem de áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2020.
Oficialmente, o bloco alega que a restrição é uma medida para que os consumidores europeus não financiem de alguma forma o desmatamento de áreas de floresta a partir do consumo de produtos oriundos dessas regiões.
O governo brasileiro, no entanto, teme que a medida possa afetar as exportações do país ao bloco que, em 2024, foi o segundo maior comprador de produtos brasileiros, totalizando US$ 48,23 bilhões.
'É improvável que essa visita mude algo'
Analistas internacionais e especialistas que acompanham o desenvolvimento das negociações do acordo UE-Mercosul de perto, porém, ainda se mostram céticos sobre o futuro das negociações.
Para Carolina Pavese, o relacionamento cordial entre Lula e Macron e as trocas públicas de elogios não significam uma mudança de postura francesa em relação ao pacto.
A pesquisadora usa como exemplo o que aconteceu durante a visita do presidente francês ao Brasil há pouco mais de um ano. "Mesmo depois do 'bromance' amazônico, Macron ainda deu declarações muito duras em relação ao acordo", afirma, em referência às assertivas do chefe de Estado sobre o pacto ser "inaceitável".
"E é muito improvável que essa visita mude isso e creio que Macron vai ter muito cuidado em não deixar com que qualquer fala sua seja interpretada como uma mudança de posição", opina Pavese.
Na França, agradar setor agrícola é essencial para o presidente, diz cientista político sobre embate em torno do acordo UE-Mercosul.
Getty Images via BBC
Segundo a professora do IMT, o presidente francês vive uma situação política interna frágil que poderia ser afetada por qualquer declaração positiva em relação ao pacto.
Em 2024, o presidente dissolveu o Parlamento e convocou eleições antecipadas após sofrer uma dura derrota na votação do Parlamento Europeu, que teve o partido de direita radical Rassemblement National (Reunião Nacional) como grande vencedor.
Nas legislativas no país, a coligação de Macron acabou ficando em segundo lugar, atrás da união de partidos de esquerda. O chefe de Estado conseguiu formar um governo se unindo com partidos da ala conservadora, mas ainda trabalha com um Parlamento fragmentado e depende do apoio de outras forças políticas para aprovar novas leis e projetos.
A 'realidade pragmática'
Para Kevin Parthenay, professor de Ciência Política da University of Tours, apesar do bom relacionamento entre os dois chefes de Estado, ambos têm que enfrentar as "realidades pragmáticas" de sua política doméstica.
No caso de Macron, diz o especialista, isso envolve lidar com o setor agrícola de uma maneira que sua posição não seja abalada.
"Na França, é muito importante que um presidente tenha o apoio do setor político da agricultura", diz.
Além disso, avalia Parthenay, todas as regras fitossanitárias e de proteção ao meio ambiente exigidas na França fazem parte das regulamentações de toda a União Europeia — ou seja, a exigência para seus cumprimentos ultrapassaria, em qualquer contexto, a vontade política de um único presidente.

Tarifas de 50% sobre aço e alumínio entram em vigor nos EUA; entenda os impactos para o Brasil

Tarifas de 50% sobre aço e alumínio entram em vigor nos EUA; entenda os impactos para o Brasil
Trump dobrou de 25% para 50% a taxação sobre os produtos importados. Especialistas dizem que exportações brasileiras aos norte-americanos podem diminuir. Cenário é desafiador para o setor siderúrgico. Trump dobra tarifas sobre aço e alumínio nos EUA, de 25% para 50%
O aumento nas tarifas sobre importações de aço, alumínio e derivados nos Estados Unidos entra em vigor nesta quarta-feira (4). As cobranças, que até então eram de 25%, passam a ser de 50%, conforme decreto assinado pelo presidente Donald Trump. A medida impacta o Brasil. (leia mais abaixo)
No texto, o governo dos EUA afirma que o objetivo das cobranças é garantir a segurança nacional. O Reino Unido, que recentemente chegou a um acordo comercial com os norte-americanos, é a única exceção: continua com tarifas de 25%.
O novo decreto confirma a promessa feita por Trump na última sexta-feira (30). Nas redes sociais, ele havia anunciado sua decisão de dobrar as taxas sob o argumento de "proteger ainda mais a indústria siderúrgica americana".
"Essa será mais uma grande dose de boas notícias para nossos maravilhosos trabalhadores do aço e do alumínio. Façamos a América grande novamente", escreveu ele, ao anunciar a medida.
A ação ocorre em um momento em que os EUA buscam negociações mais vantajosas com os países afetados pelo tarifaço imposto por Trump no início de abril. Embora as taxas tenham sido parcialmente suspensas, elas serão retomadas integralmente em 8 de julho — e têm servido como ferramenta do ex-presidente na tentativa de firmar acordos mais favoráveis com outras nações.
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Donald Trump na US Steel Corporation–Irvin Works em West Mifflin, Pensilvânia.
REUTERS/Leah Millis
As tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio nos EUA, implementadas durante o atual mandato de Trump, estavam em vigor desde 12 de março.
A aplicação das taxas atingiu diretamente o setor siderúrgico de grandes parceiros comerciais dos EUA, como Canadá e México. O Brasil, segundo maior fornecedor de aço do país, também foi impactado.
Especialistas ouvidos pelo g1 apontam que uma das principais consequências das tarifas é a redução das exportações para os EUA. Além disso, o cenário impõe novos desafios ao setor siderúrgico, que pode ser forçado a redirecionar suas vendas ou, no longo prazo, reduzir a produção.
Para as empresas com fábricas no Brasil, os efeitos variam. De um lado, estão as companhias com forte atuação no mercado externo, que tendem a ser mais prejudicadas pela queda nas exportações.
De outro, estão aquelas com foco maior no mercado interno, que sentem menos o impacto direto. No entanto, essas empresas enfrentam o desafio de lidar com o possível aumento da oferta de produtos no mercado doméstico — o que pode pressionar os preços e reduzir as margens de lucro.
Procurado pelo g1 para comentar a nova medida, o Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras, não se pronunciou. Em nota publicada em março, quando passou a valer a taxa de 25%, a entidade disse estar confiante no diálogo entre os governos brasileiro e norte-americano. (leia abaixo)
Entenda nesta reportagem:
Os impactos para o Brasil
Como a medida atinge as empresas
As tarifas — e o vaivém — de Trump
Histórico de taxas
'Tarifaço' de Trump: os impactos das taxas sobre aço e alumínio para o Brasil
Os impactos para Brasil
O Brasil é, em volume, o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, conforme dados do Departamento de Comércio norte-americano. Ao todo, foram 4,1 milhões de toneladas em exportações para o país em 2024.
Os números ficam atrás apenas do Canadá, responsável por 6 milhões de toneladas ao mercado norte-americano. Em terceiro lugar, vem o México, com o envio de 3,2 milhões de toneladas.
Veja abaixo:

Ao todo, cerca de 25% do aço utilizado nas indústrias dos EUA é importado. No caso do alumínio, cujo principal exportador para o país também é o Canadá, essa parcela é de 50%.
José Luiz Pimenta, especialista em comércio internacional e diretor da BMJ Consultoria, explica que os EUA são grandes consumidores de aço e alumínio no cenário global — insumos importantes para a produção de automóveis, eletrodomésticos, eletrônicos, construção civil, entre outros setores.
"Brasil e Canadá são os países mais afetados em termos de exportação. O que tende a ocorrer é um efeito de diminuição de importações [pelos EUA] desses países, sobretudo de aço, no curto e no médio prazo", diz, sobre a criação das taxas.
Segundo Pimenta, o cenário exige que o Brasil diversifique os destinos dos produtos, buscando mercados em outros países — tarefa difícil, já que a concorrência esbarra na China, uma grande exportadora. Outra alternativa seria tentar vender o excedente no próprio mercado nacional.
Lia Valls, pesquisadora associada do FGV Ibre e professora da UERJ, acredita que, apesar da concorrência, parte das exportações podem até ser absorvidas pelo gigante asiático.
"A China prefere comprar produtos semifaturados [placas de aço e chapas de alumínio]. Ou seja, pode importar esses materiais para transformar em produto final", exemplifica. "Mas, em um primeiro momento, não está muito óbvio para onde as exportações brasileiras serão dirigidas."
Para o especialista em comércio exterior Jackson Campos, o cenário de queda nas exportações para os EUA também pode, em um segundo momento, prejudicar o mercado de trabalho na siderurgia brasileira.
"Com menos demanda, as fábricas podem ter que diminuir sua produção, o que pode levar a cortes de empregos. Muitas pessoas que trabalham diretamente na produção de aço e alumínio, além de setores como transporte e mineração, podem ser afetadas", diz.
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Trabalhador da indústria
Reuters/Alexandre Mota
Como as taxas atingem as empresas
Os impactos das tarifas de Trump nas empresas do país foram avaliados em relatório do Itaú BBA, no início de março. Segundo o banco, empresas exportadoras não listadas na bolsa de valores brasileira — que representam mais de 80% das vendas de aço para fora do país — serão as que mais sentem os efeitos negativos dessas medidas.
É o caso de multinacionais com operação no Brasil, como a ArcelorMittal e a Ternium, indica o Itaú. As companhias produzem placas de aço, que são compradas em grande escala pelos EUA e processadas para uso no mercado doméstico. Diante das taxas, os fluxos podem diminuir, afetando essas (e outras) empresas.
Por outro lado, o relatório aponta que siderúrgicas brasileiras como a Gerdau, Usiminas e CSN não seriam tão prejudicadas. O motivo é que as exportações são menos significativas para a operação dessas companhias, conforme explicou à BBC Daniel Sasson, analista do Itaú BBA para o setor de mineração e siderurgia.
Em nota publicada após o anúncio de tarifas de 25% por Trump, o Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras, informou ter recebido "com surpresa" a decisão do governo dos EUA.
Em março, o instituto disse estar confiante "na abertura de diálogo entre os governos dos dois países, de forma a restabelecer o fluxo de produtos de aço para os EUA nas bases acordadas em 2018", ano em que foi estabelecida uma cota de exportação.
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As tarifas — e o vaivém — de Trump
Donald Trump assinou em 10 de fevereiro o decreto que impõe tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio do país. O início das cobranças foi em 12 de março.
O objetivo de Trump ao taxar produtos de outros países é priorizar e incentivar a indústria local. Ele espera que, com custos de importação mais altos, haja um aumento na procura e na produção de insumos nacionais.
"A nossa nação precisa que aço e alumínio sejam produzidos nos EUA, não em terras estrangeiras", afirmou o republicano em fevereiro, ao assinar a ordem executiva que determinou a cobrança das tarifas.
Desde que assumiu seu segundo mandato, o republicano tem anunciado diversas taxas de importação. Trump prometeu, ainda durante a campanha eleitoral, tarifar uma série de produtos de outros países, em especial do Canadá e do México, seus principais parceiros comerciais.
Anunciou também seu tarifaço, no início de abril, que atingiu mais de 180 países. A medida chegou a ser suspensa na última semana pela Justiça dos EUA, mas outra decisão retomou as cobranças, que seguem em 10% para a maioria das nações.
Produtos da China e de alguns setores específicos, como no caso do aço, seguem enfrentando alíquotas mais altas.
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Trump sofreu derrota após tribunal bloquear tarifaço anunciado no começo de abril
Carlos Barria/Reuters
Histórico de taxas
Essa não é a primeira vez que Trump aplica taxas sobre aço e alumínio importados nos EUA. Durante seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021, ele criou tarifas e outras restrições para a importação desses produtos — mas todas haviam sido posteriormente retiradas.
Veja a retrospectiva:
Em março de 2018, os EUA impuseram uma taxa de 25% sobre todas as importações de aço e de 10% sobre as de alumínio;
O governo americano decidiu excluir Canadá e México, dois dos maiores fornecedores dos EUA, dessas tarifas e permitiu que outros países solicitassem inclusão em uma lista de exceção;
O Brasil fez o pedido e foi aprovado. Os EUA criaram um esquema de cotas para as exportações brasileiras;
O esquema de cotas permitia que produtos de aço ou alumínio semiacabados (usados como insumos para outras produções) fossem exportados até atingir um volume equivalente à média das exportações de 2015 a 2017;
Para os produtos acabados, o limite de exportação era 30% menor que a média das exportações do mesmo período;
Em agosto de 2018, as regras para a compra de aço foram flexibilizadas, permitindo que empresas americanas comprassem matéria-prima brasileira se comprovassem falta de oferta do produto nos EUA;
Em dezembro de 2019, Trump acusou o Brasil de desvalorizar o real para estimular a compra de produtos brasileiros e prometeu reinstaurar as taxas de 25% e 10% sobre aço e alumínio, respectivamente;
Dias depois, o então presidente Jair Bolsonaro afirmou que conversou com Trump e que os EUA desistiram de sobretaxar o aço e alumínio brasileiros;
Em agosto de 2020, Trump restringiu ainda mais as cotas de exportação dos produtos brasileiros para os EUA, reduzindo-as em cerca de 80%;
Nos últimos meses do governo Trump, em outubro de 2020, o presidente decidiu elevar as tarifas sobre as chapas de alumínio importadas do Brasil de 15% para 145%, alegando que as empresas brasileiras estavam vendendo produtos abaixo do custo para eliminar a concorrência americana;
Em julho de 2022, já sob o governo de Joe Biden, o Ministério da Economia e o Ministério das Relações Exteriores do Brasil anunciaram que os EUA revogaram as medidas restritivas remanescentes da era Trump contra as exportações brasileiras.
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